terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Vem dar um “rolezinho” na Maré

Um fato que está incomodando as altas classes sociais de São Paulo são os chamados ‘rolezinhos’. Este fenômeno atrelado à cultura do funk é marcado pela multidão de jovens da periferia, a maioria negra, cantando refrões de funk ostentação nos corredores dos shoppings de São Paulo e fazendo daquele espaço um grande encontro de diversas juventudes.
A justificativa dos rolezinhos está em duas afirmativas. A primeira que esses rolês eram convocados por cantores de funk, em resposta a um projeto de lei que proibia bailes do estilo musical nas ruas da capital paulista, fazendo dessas intervenções nos shoppings um ato de repúdio as ações do legislativo. A segunda está diretamente ligado ao direito à cidade que todo indivíduo deve ter. Um espaço público e gratuito que permite com que cada um e cada uma tenham lazer e cultura para além daquilo que possui em seu bairro.
Em suma, o rolezinho se tornou um encontro de jovens e adolescentes, que além de poder vivenciar as experiências afetivas que todo jovem tem quando encontra os seus pares, se torna também um ato de resistência ao revindicar o shopping como um espaço de todos.
Não quero aqui afirmar que é bom alimentar uma cultura de consumo, como vemos na lógica mercadológica nos grandes Shoppings Center. Pelo contrário, pretendo afirmar que a favela também reproduz cultura quando não é reprimida. Os Rolezeiros não querem pertencer a esse mundo, querem ter acesso a cultura sem sofrer opressão.
Com isso quero dialogar com um curioso fato que mexe com o brio de ativistas de movimentos sociais. Como forma de protesto contra o preconceito e a segregação social no caso dos ‘rolezinhos’, ativistas em todo país estão indo para os grandes shoppings reivindicar o direito de o pobre frequentar o espaço sem sofrer preconceito. Atitude muito bacana essa, se não fosse pautada por uma classe média muito suspeita.  
Fico me questionando se esses ativistas de fato conhecem a cultura da periferia. Será que essa elite intelectualizada, branca e rica, na sua maioria, já foi dentro da favela saber o que leva a população reivindicar seu espaço cultural? Esses ‘militantes’ de fato sabem por quê o jovem da periferia quer estar em outros espaços para além da favela? Sabem por acaso o porque da luta por um espaço cultural gratuito?
Será que levar pão com mortadela para ser consumido na praça de alimentação do shopping e entrar nas lojas apenas para experimentar roupas é a resposta? Cantar músicas e fazer tudo de maneira pacífica, sem querer causar tumulto, é aquilo que os jovens da favela querem?
Já sabemos que só nossa presença em qualquer espaço da classe média já incomoda bastante. Por isso convidamos aos movimentos sociais a se juntarem com a população da Maré para curtir a sensação dos finais de semanas de janeiro. Estou falando das apresentações do Grupo de pagode Nova Raiz no Museu da Maré, samba de qualidade de forma gratuita.
Também na Maré, na Praça do Parque união, acontecem todos os domingos e segundas o encontro dos artistas. Clássicos da música nordestina tocam gratuitamente para todos que estiverem presentes. Sucessos de Flávio Araújo, Wesley dos teclados e o Grupo ‘Capa de Revista’ vão animar as noites de janeiro dos frequentadores do famoso Forró do Parque União
E para animar o outro lado da Maré, no dia 19 de janeiro evento “onda forte” vai reunir os melhores do Funk  vão fazer um show imperdível na Marcílio Dias. Presença confirmadas dos  MCs Sossi, Carol, Mayra e as abusadas, Bonde das Debochadas e os Djs Celão e Jorginho vão garantir o batidão para animar os presentes.
Tenho a esperança de um dia a classe média militante conhecer a cultura da favela. Assim vai poder ver que quando os moradores são reprimidos dentro de suas casas, sua identidade de cidadãos é desfigurada. Seu espaço territorial é descaracterizado e sua liberdade é condicionada. O medo bate na sua porta com uma farda azul e com um fuzil cruzado no peito, arrombando a porta da sua casa.
É contra a repressão e militarização das nossas vidas, pela nossa liberdade e liberdade do nosso povo, que reivindicamos o rolezinho em qualquer espaço. Não é só no shopping que queremos entrar. Queremos a democratização dos espaços, queremos mobilidade urbana, queremos ter direitos de nossos direitos. Vem pra favela dar um rolé e ver do que estou falando!
* Walmyr Júnior militante do Enegrecer e graduado em História pela PUC-RJ

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